ESCRITORES

satedgo

ABRAM-SE AS CORTINAS, COM VOCÊS:

A simplicidade, a sofisticação, a alegria, a inteligência, a constante e renovada juventude, de um jovem, como ouvimos de alguém, “um jovem a mais tempo”, de espontânea sofisticação, de inacreditável doçura poética, que trás consigo toda uma bagagem, que reúne os atropelos da vida, das histórias vividas, das coisas mais doces, e também amargas, desse jovem que caminha por uma estrada, nunca antes percorrida, a estrada única de sua própria vida.

A você eterno garoto ALMIR DE AMORIM, o SATED-GO rende as mais sinceras homenagens, e lhe agradece o privilégio imenso, de publicar trechos de suas obras, e enriquecer sobremaneira aqueles que tiverem o privilégio, de vislumbrar a grandiosidade e maestria como uma humilde e simples pena, conduzida por suas mãos, e orientadas por seu especial espírito e raro talento, nos brindou e brinda com obras tão profundas, e tão ricas de conteúdo.

Vejam agora o mestre ALMIR DE AMORIM, nas obras “O SONHO DE MATIAS ÔNI ” e “MARGARIDINHA”


O SONHO DE MATIAS ÔNI

                                   Almir P. de Amorim

Matias Ôni encontrou com ela ao entrar numa loja para fazer compras, acabara de sonhar com essa pessoa que ele nunca tinha visto e que se revelou, quase que num pacto como a pessoa de sua vida. Nunca mais a viu nem em sonho.

Matias diz ser dono de uma banca de revistas

Ele é louco, visionário, alucinado por drogas. São alguns dos percalços que ele tem experimentado desde que se despiu de qualquer receio de perder o créditos de sua sanidade para cumprir esse seu intento.

Há muito tempo vem divulgando um sonho seu. De tempo em tempo promove encontros com pessoas que respondem aos seus apelos como sendo o que ele viu no sonho. Jás marcou diversos desses encontros em lugares de características totalmente diferente. Neste mais recente presume-se que ele se acha com seus convocados numa sala de espetáculos simples mas que já serviu a muitas atividades artísticas. Cansado dessa busca, mas sem desistir expõe, compara, desmascara e reafirma sua intrépida busca, diríamos absurda!?

Aqui ele lança mão de recursos, como convidar uma dançarina, um músico, um desenhista, enfim algum artista que coincidentemente esteja presente na plateia. Enquanto observa e destaca os candidatos a preencherem aos   requisitos, revelar-se como verdadeiro eleito, para isto Matias tem que confirmar. E só ele pode fazer isso não importa como.

Inspirou-se o autor desta peça “ O Sonho de Matias Oni”, em certo jovem que procurou a internet e recursos virtuais para encontrar a garota, literalmente, de seus sonhos. Não havendo nenhuma semelhança com o fato real e sendo exposta de forma inusitada para o teatro.


Palco em penumbra.Entra ele, Matias Ôni, distribuindo pontas de barbantes para as pessoas enquanto mantém as outras extremidades consigo numa espécie de pequena moldura que traz consigo.Procura um ponto onde instalar a moldura. Música. Fala quase sempre com a moldura, pela moldura e para a moldura.


MULHER

Por favor! Deixe eu entrar. Eu preciso entrar. Por favor, me deixe entrar! Eu tenho que entrar. Sou eu!

     SOM COBRE AS FALAS DA MULHER. LUZ.


MATIAS

Se cansar de segurar a ponta, passe para outra pessoa... em último caso prenda no assento...mas não me deixe sozinho essa personagem que vaga como uma alma penada tentando me comunicar com vocês, ilustres mortais.... Eu sou um zero cortado orgânico. É, eu não sou um número, ou algarismo no sistema, figuro como algarismo nenhum e organicamente cortado .(TOM) Hoje é mais um dia. Outro lugar do mesmo lugar. Devo me apresentar como um Hamlet de um Shakespeare, sem traição de sua mãe e nem o fantasma de seu pai a buscar o assassino, seu tio, agora amante de mamãe!? Ao lado de uma Ofelia encantada que vaga seu corpo lindo e espírito encantador por caminhos nano-rabiscados nos sonhos!? A verdade seria essa, se tudo fosse normal como parece ser. Mas tive um sonho...Eu, o corifeu de mim mesmo, talvez filho de Melpomene, por conveniência. Sou um cavaleiro do céu, não sou um principe indignado com a podridão do reino. Esse céu é o espaço onde eu vivo e encontro a Dama de Ouro e o Rei de Copas me dando a mão da filha Maya de Mayana. É aqui na luz, onde o humano voa sem asas, só com o pensamento, assim, se teletransporta, a gente, para qualquer lugar, num piscar de luz e num ato de respirar... Meu cavalo sou eu mesmo. A Dama Filha é aquela que surgiu do onde, aonde ela não mora. Minha ciência nem é mais ocultista, como a poesia e a Arte, é vadia. Eu procuro aquela que me espera depois da pequena loja. Que música é essa? Que corpo é aquele que se move tão natural no que dizem que não é real e nem virtual? Acho que fiquei assim porque no sonho vejo você que nunca mais saiu de minha cabeça, da minha vida. Não é piração minha não. Culpa do sistema!?...Talvez. Já viu falar na antimatéria? Acho que descobri ou herdei isso antes de todo mundo, faço uso dela, essa tal de antiméria... e todas as suas possibilidades. É sério. Não é papo de super-herói... Não é brincadeira não .(RI) Nesse meu sonho, parece que não é um sonho... saio pra comprar um barbeador descartável na loja vizinha da minha casa.. Me encontro com você que não é a balconista, está separada de mim por uma realidade estranha. Sei que você existe, mas não existe... vejo você aí, agora, mesmo, mesmo, numa multidão torcendo pelo time, no estádio, entre as pessoas, seu rosto bem próximo sorrindo, querendo me convencer que não é uma pessoa real, é só um holograma palpável que eu ainda não alcancei na sua pele...um produto material da antimatéria... Piração minha!? ( AUSCULTANDO ) Você está no meio de todos! E no particular não me aparece mais! Desenhei seu rosto, não sou muito bom de desenho, mas gravei todos os detalhes que me fazem reconhecer quem é você. Tenho um retrato seu no meu computador. Um retrato psicografado, digitalizado. Outro, eu tenho aqui, nesse patuazinho tipo camafeu que trago junto do meu corpo assim ...com cheiro e tudo.

(SE RELACIONA COM O PATUÁ DE FORMA INUSITADA )

Agora olho pra vocês, certo no meio de vocês tem alguém que é a razão da minha vida; sentados, todos e cada um...não vejo a razão no meio de vocês. Estão pra mim como pistas que colei na parede do meu quarto: Fotos, retratos-auto-falados, desenhos, dizeres, marcas de batom no guardanapo, cartões, tudo que venho coletando e colecionando... e que tenho escaneado... Compare e ache!... Já coloquei essa minha busca em várias redes, recebi respostas de muitos lugares do mundo, respostas impossíveis de se imaginar, venho seguindo todas e nenhuma delas é você, Figura ... Querem saber?Aparece, Figura!... Você!?... É, não é só a mulher invisível dos meus olhos do espírito!? Não. Posso provar. É só nosso encontro acontecer aqui, definitivo, de um pro outro... assim... e eu sei que você é ela. Está para mim como o centro de uma esfera que está em todos lugares e para todos; é em nenhum lugar e pra ninguém ao mesmo tempo que pra mim. O seu raio liga você comigo e me liga com você. Phantasos, sua irmã gêmea. Minha deusa, não me engana! Ah prole dos Oniros mil filhos de Hypnos! Em algum lugar do Paraiso tenho minha barraca istalada e o Paraiso pode ser algum lugar desses aqui. Sou o Lagarta-do-Fogo. Agarrado ao portal dessa folha atomica luminosa, comendo, comendo ansiosamente para vazá-la e encontrar você nessa árvore que realiza todos os desejos de sempre. (FOCANDO A MOLDURA) Sou um andarilho, simplesmente. Estou aqui porque recebi desta cidade, indicações de que você está aqui, mora aqui, recebi até seu endereço...coisas de sua intimidade, umas fotos, detalhes incríveis! Pelo celular, inbox, mensagens ...(TOM)   Você é que sabe uma dança, a dança do ventre, não? Por gentileza, nos ofereça um número de dança aqui, pode ser?

INSTALA A MOLDURA EM ALGUM PONTO DO ESPAÇO.COMO SE ELA FOSSE UMA ESPÉCIE DE MONITOR. LUZ. MÚSICA. A DANÇARINA SURGE EM CENA. NUM PONTO RESERVADO POR UMA ESPECIE DE CORTINA TRANSPARENTE E FAZ A SUA EXIBIÇÃO. LUZ. SOM. ABRE A CENA, ONDE ESTÁ DISPOSTO UM COLCHONETE NO PISO; ESPALAHADOS ALGUNS LIVROS, JORNAIS, REVISTAS, UMA LANTERNA, UM NOTEBOOK ABERTO. TALVEZ DESÇA DO TETO ALGO QUE REPRESENTE UMA ENORME TEIA DE ARANHA E NO CENTRO DELA ACENDE UM FOCO AZUL. SOM. MATIAS ENTRA COM UMA PEQUENA SACOLA

MATIAS

Andarilho, lembra? A minha vida podia muito bem ser, aqui, uma comédia dessas apresentadas por uma pessoa só, que fez o seu marketing da forma que multidões se novelam e acotovelam pagando bilhetes que permitem cada um sentar numa poltrona e acompanhar a pessoa única, ali (ou aqui), contando em forma de piadas ou relatos engraçados, fazendo caras, bocas, trejeitos corporais...as dificuldades e facilidades da vida própria e de anônimos, ocultos em qualquer situação imaginada, vivida ou que provavelmente pode acontecer com qualquer um... Mas não...é minha tragédia absurda de solidão cheia de recursos e facilidades. A gente faz fogo, como no tempo da caverna, agora de um jeito muito mais fácil, com o dedo... Tem tudo o que quer assim no estalando nos polegares... Não me alinho nada com essas tramóias todas do cada dia... Eu tenho a minha folha luminosa, basta ligar...para ficar comendo luz. Estive fora do país por muito tempo, achei que não ia mais voltar.Tenho um curso superior. Minto. Menti muito. Mas essa é a minha mais pura verdade. Ali, uma banca de revistas e livros, é minha. Deixei de lado qualquer cuidado que me defende do perigo de me parecer louco, diferente, desajustado... sou um iluminado à toa, descobri isso! Não aconselho ninguém entrar nessa, mesmo, essa é a minha. Procure a sua ...(LEMBRA)   Maya Mayana! Não é, Arnesto!? Tua cabeçada famosa matou-te a ti mesmo... Sua cabeça, seu mestre... (TOM)   Acabei por comprar um aparelho de barbear, descartável, na pequena loja da rua principal porque eu sonhei com Ela, mulher da minha vida e ela está naquela loja, ia poder me encontrar com ela ali. Ela não estava lá. Falou comigo e saiu, não está... sumiu. Não está lá e em nenhum lugar. Que louco! Nunca mais encontrei a Figura Encarnada. Eu não sou sonâmbulo querendo encontrar a sonâmbula que está pra lá da folha do Lagarta-do-Fogo, eu... Tudo bem, isso não é normal, senhor Matias One... É Ela! Está se apresentando pra mim? Prova! Depois você vai se aproximar e eu...vou me certificar. Será!?..( PARA ALGUÉM ) Levante- se. Você. Venha até aqui, por favor... Não, fique à vontade. Espere.


MATIAS

Agora vou ali buscar uma bola para um joguinho. Estou me sentindo tão consumido, ou consumado... Você toparia participar de um joguinho saudável. É, não é fácil pagar pra vir aqui e me ouvir expor minha situação... tenho feito isso em vários lugares... Tem coisas que são como nossa senha secreta, só eu e... mas, então, volto já, não vou demorar (SAI)

VOLTA COM UMA GRANDE ESFERA DESSAS DE PRATICAR GINÁSTICA. CONVIDA ALGUÉM.

O jogo, na verdade, não é um jogo desses de jogar, ganhar ou perder... Quero que você abrace esta esfera e se movimente massageando o corpo, depois deite de costa sobre ela e continue os movimentos... esse é o jogo. Minha vida não é uma dessas comédias. Obrigado... Não se preocupe comigo, com o que eu vou fazer. Fique à vontade pode até me ignorar...se eu fizer um monólogo se eu falar aqui com o meu botão eletrônico... Ou falar no celular... (TOM) Se você se sentir incomodada, constrangida, não liga não. Mas se for insuportável, simplesmente martirizante... pode voltar para o seu lugar, mas ia ser muito bom, pra todos, se permanecesse aqui... usufruindo e compartilhando com os outros este momento... Não tenha medo, gente não morre; fica viajando no espaço, no tempo e na luz, já diziam os indios daquela tribo desconhecida...

LUZ NA PESSOA EM ATIVIDADE NA ESFERA.OUTRA LUZ EM MATIAS QUE CONSULTA O COMPUTADOR.

Muita gente procura a ginástica para modelar o corpo, engrossar as pernas, os braços arredondar a bunda, estimular o desenvolvimento...os movimentos, as sensações... o Espírito da Coisa. Procuro a Encarnada Viva que me prendeu a si por um fio astral qualquer...procuro desse jeito, com todos recursos da informática... da mística, parapsicologia, da yoga, não quero só uma explicação... Confirma!?... Aí! “Procure palavras-chaves, signos... Tente mais tarde... Tente um recurso, parte do corpo a ser melhor utilizada, algo exótico a ser explorado... Você está nos deixando confusos...Que palavra é essa? O que ela significa? Para que serve?”

MATIAS RI. AO COMPUTADOR

MARGARIDINHA

                           A MULHER DO SÉCULO

Almir P. de Amorim

A personagem e a peça

             Margaridinha da Silva é uma mulher dinâmica, uma versão meio tupiniquim da supermulher. É muito engraçada na sobrevivência canibal da atualidade e suas promessas científicas.

             Ela se apresenta na trajetória de vida de uma mulher preocupada com a “geografia” política da humanidade. Está se capacitando através da Educação à Distância em Adminstração Pública. Tem uma microempresa de Serviços Gerais diversos. Na sua vida corrida do dia a dia de mãe de familia, ela tem tempo para acreditar que será eleita a algum cargo muito importante na política do país.

             Esses momentos de vida, sua luta e sua experiência é que a peça registra. Ora em sua casa, ora na empresa, ensaiando um comportamento em construção de verdadeira “titã” na condução da administração pública, baluarte da nova sociedade; e por fim através de um programa de TV onde é a apresentadora, ela deixa escrita sua vida, essa peça: Margaridinha, a Mulher do Século.

             É o que podemos chamar de uma comédia interativa recheada de non sense e tiradas livres de uma cena aberta. Seria absurdo se não fosse cotidiano.

Margaridinha é a peça!


Som tipo clarim anuncia. Música. Margaridinha surge apressada em trajes, que têm como base um roupão. Senta-se diante de uma penteadeira portátil e começa se preparar com seus cremes, base e maquiagens, escova os cabelos. Pega um vestido ou macacão e procura um lugar para se trocar.        

                          EM CASA

MARGARIDA

  

Eu tô conhecendo você! É você mesmo. Esteve comigo lá atrás na “tenda dos milagres”... E aí, casou?... É? Aquele cara mesmo? Casou com ele? Não deu certo?... Tá aí acompanhado...Quem ela? Mudou de sexo outra vez?... ( Vai até alguém, oupede para vir a cena ) Ô, “Benhê”! Pode fazer uma divisória aqui pra eu por a roupa de cena... tem gente que vem aqui só pra ver gente pelada, não é?.. “Vamos ao teatro?” “Tem gente pelada? Que horror!” “ Eu não vou não...” “ Vamos é arte!” “Tá então eu vou, mas na hora eu não olho!”... Benhê! Me protege, hein!? Não olha não!... Não, pode ir sentar... Ó o olho da pessoa...um no peixe e outro no gato... Tenho trauma dessas coisas...dois rapazinhos que estavam começando uma dupla caipira, eram assim sem graça nos show... aí um falou pro outro vamo lá na Casa de Carne?... O outro: pra quê? Ele repondeu desse jeito:... Lá tem galinha pelada!... Eu levantei no meio do show e gritei pra eles: galinha é mãe docês, seus franguinho de quintal... mandaram a policia me tirar de lá! Que vergonha!... Eu trabalhava na Casa de Carnes e tinha um lugar onde eu e minha colega trocava de roupa e um dia eles tavam olhando nós da janela da casa deles, um sobrado bem vizinho... eu sabia que eles tavam falando aquilo pra mim... Depois eu casei com um deles...                                                               

(TALVEZ JÀ TENHA CONCLUÍDO A        TROCA DE ROUPA).    

Tô aqui fazendo da minha casa, esse teatrim, recebendo vocês assim, mas eu não tenho vegonha de dizer não. Meu negócio é outro, quem me conhece, já sabe que tô dando um duro e logo, logo vão saber de mim, por cima da carne de vaca... Amanhã vou apresentar um trabalho lá no Curso e vou falar da minha eleição para Associação... Eu já andei fazendo coisas do tipo de teatro que o povo gosta... mas é pouco. Vou fazer um teatro pra eles amanhã. Eu quero mais. Nem que eu vire essa Cidade, esse Estado, esse País... esse Mundo do avesso. Hoje sou uma empreendedora...Mas vamos arrumar a casa e transgredir, vazar os limites, porque quem tem limite é cheque especial e eu quero é ficar pra lá dos cartões...escreve aí e dá pra sua amiga reporter. Eu sou Vip não sou de Vapt-Vupt não.   (SOM. LUZ. PENTEADEIRA SE TRANSFORMA NUMA MESA DE ESCRITÓRIO. LUZ. MÚSICA.VISUAL .EMPRESÁRIA ).


NA EMPRESA

EMPRESÁRIA

Este escritório me custou muito, presto serviços variados...Meus santos protetores e toda a corte, em particular, você minha Santinha dos Impossíveis!... Eu quero ser doutora... Sedutora? Você me acha mesmo, sedutora? Huuum!... Sou mesmo, mesmo!!... Essa santinha é igual o Espelho Mágico, me diz cada coisa!...Vou concordar com você, mas eu sou mesmo é exótica. Decobri essa palavra: exótica... Acostumei com o meu nome: Margaridinha. E agora com ascenção da mulher quero reafirmar minha posição que sempre foi a do Portal, do reconhecimento da mulher como potencial dominante da raça humana, Mas vou continuar sendo Margaridinha... No tempo da queima do sutian eu só era uma pré-adolescente, mesmo assim ainda me empolguei, não tinha um sutian de verdade... Mas eu também queimei o sutian. Queimei escondido, mas queimei; fiquei de castigo muito tempo, também levei uns tapas da minha mãe... o sutian era dela... Margaridinha! É meu nome próprio...Acho que por causa da Professora Margarida do Roberto... Margaridinha não é um diminutivo, de jeito nenhum... também não é titulo de filme pornô... sou abotoadinha do pescoço até abaixo do umbigo, por cima do joelho, no meio das curvas e no cacho de uvas... bom, tem uns descontos que eu também sou humana. Né!? Aliás muitas vezes até humana demais pro meu gosto... Minha irmã contou pra minha mãe meu primeiro protesto de mulher oprimida... Tirei a roupa subi em cima e cantei aquele música “Liiivre! Livre como a briiiisa”, eu já era mocinha, a janela estava aberta e os vizinhos bateram na porta, minha irmã foi atender depois veio igual um dragão: Fuuuuuuuu!... Quê que é, tá doida quer virar puta logo cedo?... Atrasei nos meus estudos.

Tenho uma irmã homônima, é assim mesmo que se fala? Eu sei! De nome igualzinho só tem Maria no meio, que era um dos nomes de mamãe, ela vive pelos parques e jardins e pelos meio-fios da vida, sofre tanto nas estações mais secas, mas tem o seus encantos... com seus batons brancos cintilantes e os esmaltes brancos perolantes...

Estou pronta, esta é minha pasta de estudo à distância... Larguei fogão, máquina de lavar roupas e ferro de passar... não consigo mais ter um bom relacionamento amistoso com aprelhos, máquinas, instrumentos domésticos... não sou selvagem não, sou cosmopolita metropolitânea contemporânea da metrópolis ... Falta um lustro no sapato, um toque no cabelo... tenho um encontro importante e definitivo com um assessor... se arrumem meus filhos e marido, é, se aparecerem em casa, qualquer coisa passem na minha sala... não a família não cabou ainda não, tá só começando uma nova fase ...(telefone ) Meu amor! Estou super atarefada, hoje ainda tenho, além de tudo, presencial o dia todo... Olha, olha!! Posso me tornar Ministra de alguma pasta... entenda, por favor...tá, meu bem!? Beijinho!!... Oh. Caralho! Minha garotinha... Perdão, esse palavrões surgem assim na boca de gente mais fina da paróquia... Minha garotinha parece mais antiga do que eu... sente uma falta da mulher em casa! Vivendo o seio doméstico... é. Aquela dança do lar: lava roupas, limpa a casa, lava o banheiro, limpa os móveis, prepara o lanche, vai pra cozinha lavar louças, fazer comida, liga a televisão... hora da novela... Ah, meu Deus, adoro novela!! Não deve existir uma pessoa no mundo que não goste das novelas... televisão pode até ser a Torre de Babel, mas a novela é a última maravilha do mundo... Preciso ir. Preciso ir que estou muito atrasada... Será que peguei todas as coisas!? Falei com Nossa Senhora dos Aflitos? Falei, falei sim. Dos Impossíveis também. Falo com todos os santos antes de sair do escritório! ( LUZ. MUDANÇA E OS MÓVEIS SE TORNAM UM PALANQUE).

                          NO CURSO

POLÍTICA    

Eu quero apresentar meu trabalho do Curso agora: Geografia Política da Mulher do Século... Uma Solução... Vou, de uma forma bem particular me colocar como uma adversária política. Aproveito para dar uma resposta à colega ali que se apresentou na presencial passada... Século é o nome do meu marido... E eu sou a mulher do Século! (ASSUME A POSTURA E CARACTERIZAÇÃO DE UMA CANDIDATA POLÍTICA.)

Brega, sim. Mas brega com dignidade, atualizada!... Brega periférica é você e sua vergonhosa pobreza... Pobre de matéria, pobre de espírito, de educação, pobre de fé... Eu posso ser pobre, mas sou pobre com devoção...Vencerei!! Vim para varrer com a falta de vergonha na cara que campeia a administração pública... falo de boca cheia, quero dizer, de boca limpa... quero dizer, as palavras de minha boca são verdadeiras!... Quando Eva, no Paraiso... lá em São Paulo... assumiu seu nome e seu destino, sabia que estavam vindo muitas outras adoradoras da Serpente sedutora que surgiu no Paraiso, o outro, o original... lá do Eden... onde estava a verdadeira Fonte da Juventude que foi transformada na fonte da Criação e entregue a nós mulheres como agentes divinas da eternidade da espécie... Sou brega sim, porque sou o amor!... Não vamos aqui misturar as coisas públicas com o fervor das intimidades... Absolutamente. Minha adversária política andou lavando os pratos e os panos sujos da coisa pública na cara de todo mundo, mas se esqueceu de que a roupa suja que se lava em casa, lava-se em casa!... Mas eu estou aqui para mostrar que essas Evas vão é padecer lá no Paraíso, aquele tropical onde corre solto todo tipo de maracutaia e sapeca os cifrúis dos cão... para não acostumar a bunda nos tronos de mandatários de todo tipo de feiiços cruéis debaixo dos panos da corte administrativa da população enganada...Sou evoluída, minha filha; não tenho rabo preso, o cifrúis está a mostra, prs todo mundo ver, quero dizer, sou ficha limpa de nascença... não, não ando com o bicho solto por aí à toa, não quero agradar o mundo e o fundo pra ficar bem no “santinho” não... minha campanha não tem borbolhas na banheira de ninguém... não faço essas coisas de soltar pum na água, não... Minha vida privada todo dia é asseada e com cheirinho de limpeza... Meu marido está lá sempre no seu lugar, não anda por aí pelas esquinas e pelos bares discutindo a derrota do time... ele é firme na zaga, não fura nenhuma bola pra ataque nenhum se dar bem do meio de campo pra cá...Aqui não tem firula.

Se querem me eleger podem eleger que eu não vou fazer feio. Desde cedo que o meu corpo é um livro aberto ao público e meu espírito, minha alma são páginas livres para qualquer faixa etária.

Eu não prometo o mundo e os fundos pra conseguir eleitor... aqui tem carne de primeira e dá pra todos!... Margaridinha da Silva, escreve aí! Margaridinha Pop.

O quê? Tá me olhando daí pensando que sou doutora e assim que for eleita não me lembrarei de mais nada?... Não, ainda não sou doutora não... Mas estou quase lá... e sou de safra nova... não pertenço a nenhuma dinastia não faço política dessas de família, de pai pra filho, de avô pra neto e os cambaus.

Podem me eleger para presidente da Associação, que daqui é que chegarei a vereança, à Câmara Municipal ao Legislativo Estadual, à deputança... deputadoria federal... deputaria com toda minha experiência e normas do negócio e deputarei, sim, com todo o meu gabarito... Nada de dinheiro nas calcinhas, que não é pra sujar, transmitir doenças, serão provedinciadas camisinhas de Midas para multiplicar o dinheiro fazê-lo virar ouro; Camisinha de Vênus? Não, porque Vênus é deusa do Amo... Não é deusa do Amor? Ah, não importa. Camisinha de Midas porque ele é o Rei do Ouro... meus assessores não serão peças de escândalos, serão sim peças íntimas da vida pública...c’os vermelhos no controle... tudo no azul, pra não dar muita pintada por aí...vou enxo ...(Soluço )... xotar... os espertos!... Ministra Extraordinária! Chegarei a Ministra Extraordinária!! Me aguardem... dedo no botão, carícia na telinha, conexão em todas redes sociais, de dormir, de pescar, de cabelo. Todas as redes...Ai! O outro lado do Espelho Mágico e eu lá!... Querem a Ministra?... Meu povo! Vou resgatar todos os frutos do cerrado goiano... voou dar o pequi pra todo mundo, a croada aqui, marmelo caju, mama cadela, mangaba ixe leite mii de grilo, araticum cagão, bacupari, araçá, pêra do cerrado há maracujazinho que é sempre tempo... raiz de pau doce, a azedinha vai dar, sem regar...pitangas mandapuçá c’os coquinhos ...pra chupar e mascar... flozinhas do cerrado ingá taí nas beiradas, as pitomba, pega e mostra o seu buriti pra eles ver o que é a árvore da vida... mutamba macaúba, ah, murici até cagaita douradinha a gabiroba... e c’os molhado de orvalho...as folhas verdes maciinhas pra limpar o toba... ampliarei o Centro Oeste brasileiro para além das fronteiras do mundo teremos estações nas galáxias representando nossa biodiversidade; biomas, triomas, quatriomas dominarão o universo!...Eu sou a Ministra Extraordinária, eu vou soltar os bichos, deixar os bichos soltos na globalização sustentável... bem na economia criativa deles... Aqui não tem nada de extraterrestre não. É Extraordinária, a mulher extraordinária do Ministério Extraordinário!Margaridinha da Silva é eterna. ( APLAUSOS.MUDANÇA.TALVEZ VOLTE A PENTEADEIRA).

Um Artista diante de um mundo em constante transformação, um gênio abrigado em enorme simplicidade, assim, pode ser definida a multifacetada personalidade do jornalista, compositor e músico, entre tantas outras atividades, CARLOS BRANDÃO.

Ele inaugura a aba PARCEIROS/ESCRITORES do site do SATED-GO, nos honrando, ao autorizar a publicação de pequenos trechos de sua obra “I Believe”, que, conforme por ele mesmo informado, são quatro livretos no estilo cordel, onde em cada livro, Brandão fala de um dos seus personagens que mais usa no dia-a-dia. "Somos muitas faces. E as que mais uso estão nesses livretos: o velho, o menino, um cara e eu mesmo. Este texto foi montado pelo Grupo Sonhus Teatro Ritual, de Goiânia. A montagem está em cartaz há 4 anos e já foi mostrada em diversas cidades goianas, além de outras capitais como São Paulo" , comenta o autor.

Senhoras e Senhores, com vocês:

I Believe

Eu sou um velho inútil

feito um lata vazia

mas minha alma é um lance

minha usina de alegria.


Eu sou um velho assanhado

estranho velho do mundo

querendo coisas demais

no meu tempo de um segundo.

Sou um menino decente

no meu jeito de julgar

e se às vezes me engano

sei que também sei falhar.

Sou um menino maluco

mas não voo até o sol.

Sei que o barato da vida

É um velho rock’n roll.

Sou um menino danado

Que se jogou por aí

que se perdeu num vacilo

e se achou “mares de ti”.

Sou um menino invocado

um michê, um qualquer um

mas não me dobro tão fácil

nem saio no Olodum.

 Sou um cara meia-bomba

marqueteiro de plantão

sou por certo um boca livre

no banquete de Platão

Sou um cara barulhento

- quem me aguenta, erga a mão

candidato de dois votos

posando de oposição.

Sou um cara supercara,

elogios por favor,

sou o doido mais bonito

narcisista, sim senhor.

Eu sou eu mesmo, um comum,

índio da roça Goiás,

mas sou um cara de raça

sou de guerra e sou de paz.

 Eu sou eu mesmo, o sorriso,

o alto astral, o humor,

mas não me tirem do sério

nem me enganem, por favor.

Eu sou eu mesmo, seu moço,

um velho, um cara, um menino

bordando juntos a estrada

que os outros chamam destino.


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